Sem ver de quê; um riso brando e honesto,
Quase forçado; um doce e humilde gesto,
De qualquer alegria duvidoso;
Um despejo quieto e vergonhoso;
Um repouso gravíssimo e modesto;
Üa pura bondade, manifesto
Indício da alma, limpo e gracioso;
Um escolhido ousar; úa brandura;
Um medo sem ter culpa; um ar sereno;
Um longo e obediente sofrimento
Esta foi a celeste fermosura
Da minha Circe, e o mágico veneno
Que pôde transformar meu pensamento.
TEMA
O tema deste soneto é a beleza da amada e o fascínio por ela exercido no sujeito. Trata-se de um retrato mais espiritual do que físico, que se conclui com uma referência à transformação do seu pensamento provocada pela sua formosura, que funcionaria como um “mágico veneno”. Esta escassa referência a características físicas e a predominância das qualidades morais remetem-nos para a ideologia platónica. Todavia, é sobretudo nítida a influência petrarquista no ideal de beleza feminina, e nas qualidades morais atribuídas à mulher, expressas por uma adjectivação abundante e por substantivos abstractos. Observa-se, ainda, que, na esteira de Petrarca, as qualidades morais predominam sobre as físicas e o fascínio resulta, portanto, da beleza espiritual.
ESTRUTURA INTERNA
O soneto divide-se em três partes lógicas:
1ª parte – duas quadras e 1º terceto – enumeração dos atributos físicos e morais da amada.
2ª parte – versos 12 e 13 – sintetizam esses atributos “Esta foi a celeste fermosura (…) e o mágico veneno”
3ª parte – último verso – confessa-se o fascínio sentido pelo sujeito “…pôde transformar meu pensamento”
UNIDADE FORMA / CONTEÚDO
Ao carácter descritivo do poema, constituído por uma enumeração de qualidades e seus efeitos no sujeito, determina a utilização de certos recursos estilísticos:
a) Anáfora – repetição do artigo indefinido em início de verso, e que marca a passagem de
uma qualidade para outra;
b) Discurso Valorativo - traduz o juízo de valor que o sujeito faz da amada, e assenta, sobretudo, em adjectivos e expressões que contêm uma apreciação subjectiva das suas qualidades;
c) Abundância de adjectivos e substantivos abstractos e a quase inexistência de verbos;
d) Substantivação de verbos: “um mover de olhos”, “um encolhido ousar”
e) Artigo Indefinido - sugere proximidade afectiva entre o sujeito e a amada;
f) Antítese - “celeste fermosura” / “mágico veneno”, “um mover de olhos(…)” / “sem ver de quê”
g) Enumeração assindética - acumulação de segmentos de frase, separados por ponto e vírgula, e sem recorrer à copulativa “e”;
h) Metáfora - “mágico veneno”, “a minha Circe”.
b) Discurso Valorativo - traduz o juízo de valor que o sujeito faz da amada, e assenta, sobretudo, em adjectivos e expressões que contêm uma apreciação subjectiva das suas qualidades;
c) Abundância de adjectivos e substantivos abstractos e a quase inexistência de verbos;
d) Substantivação de verbos: “um mover de olhos”, “um encolhido ousar”
e) Artigo Indefinido - sugere proximidade afectiva entre o sujeito e a amada;
f) Antítese - “celeste fermosura” / “mágico veneno”, “um mover de olhos(…)” / “sem ver de quê”
g) Enumeração assindética - acumulação de segmentos de frase, separados por ponto e vírgula, e sem recorrer à copulativa “e”;
h) Metáfora - “mágico veneno”, “a minha Circe”.
Neste poema, a anáfora mostra uma ideia contínua no Verão seguinte para dar continuidade à caracterização. Tenho este apontamento no meu caderno diário, mas não sei de que quadra/terceto se refere.
ResponderEliminarJoana, nº15 - 10ºN
É notável que nestes poemas conseguímos mesmo, sem sentir o amor de Camões no sentido de sentimento, mas sim conseguímos identificar que é basta pois a sua descrição e caracterização desse amor e da sua amada é bastante real, conseguímos perfeitamente visualizá-la mesmo sem estar presente em corpo.
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