A terminar mais um ano, a professora de Português, orgulhosa dos seus alunos, deixa-lhes o seu agradecimento pelo facto de, mais uma vez, terem demonstrado o seu valor académico e humano. Obrigada.
terça-feira, 9 de junho de 2009
OS MAIAS NO 11ºANO
A terminar mais um ano, a professora de Português, orgulhosa dos seus alunos, deixa-lhes o seu agradecimento pelo facto de, mais uma vez, terem demonstrado o seu valor académico e humano. Obrigada.
ATÉ SEMPRE! BOAS FÉRIAS!
Um abraço,
Salomé Ramos Neves
A Professora de Português
segunda-feira, 8 de junho de 2009
domingo, 7 de junho de 2009
SUGESTÕES DE LEITURA
De bem pequeno encontrei na leitura um dos meus passatempos favoritos. Gosto alimentado pela possibilidade de dispor do consumo típico e adequado para a idade, aliado ainda ao facto da televisão nunca me ter verdadeiramente como um seu apaixonado. E assim é que a saga dos “Cinco” e dos “Sete” foi devorada e dissecada até à exaustão, e arrumada no imaginário de criança - possivelmente funcionando numa grande percentagem como alternativa aos bonanzas e casas na pradaria. Porque embora à data a liberdade fosse ainda uma utopia, o certo é que nestes domínios, felizmente, cada um comia aquilo de que gostava. Dentro de certos limites...
E assim se foi sucedendo literatura mais ou menos inocente e avulsa, sem critério de qualidade ou fidelidade a qualquer género, e cada vez mais esparsa. É que o pulsar da alma e do corpo convidavam a outros rumos. Felizmente para mim, encontrei quem reacendesse e incentivasse o meu gosto pelos livros, encaminhando-me na direcção correcta, facultando-me e aconselhando-me aqueles que instintivamente despertaram a minha curiosidade. Na pessoa da Drª Ester Brandão, modelo de Professora e de Senhora, marca indelével na minha vida como exemplo pedagógico, científico e humano.
E naturalmente comecei pelo princípio. Júlio Dinis em doses adequadas, enredo prendendo ao ritmo das actuais novelas, foi trampolim para coisas mais sérias e elaboradas. Tudo a seu tempo e sem precipitações. De Camilo a Eça foi um pulo; e a partir daí sobe o tom da exigência. É como na vida. Aos dez anos aprecia-se uma laranjada; passa-se à cerveja; e só depois de muita zurrapa ingerida estamos apetrechados a descobrir as excelências de um bom néctar ou saborear o paladar arrastado de um malte. Aos dez anos aprecia-se o Marco Paulo; passa-se ao rock de empreitada; viaja-se em buscas mais depuradas, e após muita batida sedimentada nos tímpanos aderimos à música clássica ou ao jazz.
Não conheço criança de seis anos que tenha começado a ler Proust ou a agitar o corpo ao som de Bach. Assim na literatura, não há mal nenhum começar pelos paulos coelhos ou margaridas nas suas diversas vertentes; é até muito bom e natural...desde que se dê o salto em devido tempo e se não passe a vida toda a beber laranjada.
As estatísticas dizem-nos que cada vez se lê menos. Colho-o por experiência própria, através da observação, contactos e conversas com as novas gerações. Verifico contudo um fenómeno aparentemente contraditório: é que o distanciamento em relação aos livros é contrariado e compensado por saudável curiosidade e interesse pelo que se passa à nossa volta, nos mais variados capítulos e áreas. Com informação colhida invariavelmente através da net.
Numa análise apressada e atrevida, legitimada apenas pelo interesse que desperta o que me circunda, estou em crer existir actualmente um desfasamento insuperável entre o imediatismo da informação colhida através da net ou dos mais diversos meios audiovisuais e o suporte papel. Este, mais lento e mastigado, não se compadece com o ritmo a que a vida é sorvida. É o triunfo da fast food sobre o manjar de qualidade. Mas a derrota deste último só advém ou do seu desconhecimento ou da falta de oportunidade para o saborear.
E como incutir nas crianças o gosto pela leitura - sem que tal tenha de afastar o recurso a actuais instrumentos de conhecimento e diversão? Através do fornecimento de material literário capaz de os seduzir e despertar. Por dever de ofício, folheio e contacto os manuais de português em uso na secundária. A começar por textos daqueles, também eu actualmente não gostaria certamente de ler. São dissuasores de qualquer aproximação à literatura; secos e desinteressantes, não tem em qualquer conta a realidade do dia a dia nem os seus destinatários; nem cativam pela estética nem pelo conteúdo.
Concordo que deve ser difícil entusiasmar um adolescente com um clássico português em que são necessários vários capítulos para dar um beijo quando muitas vezes se pergunta o nome do parceiro ao acordar. Mas não haverá autores actuais, de qualidade, portugueses ou estrangeiros de temática capaz de aliciar um jovem?
Não será preferível o recurso inicial à literatura light, entendida somente como etapa necessária a outros voos? Tenho para mim que a net e televisão têm costas largas como responsáveis pelo desinteresse e afastamento da leitura. O valor de uso de uma coisa pressupõe o seu conhecimento. E os responsáveis pela divulgação do livro e literatura parece nem conhecerem o produto que têm em mãos nem os interesses do alvo a que se dirigem.
Rodrigo Peixoto
. Neste livro, sacerdotes artesãos e artistas vivem numa cidade proibida aos profanos, cercada por muros altíssimos, onde eram incumbidos de construir os templos e as moradas eternas dos poderosos, no Vale dos Reis. Este local era conhecido como Lugar da Verdade, onde somente poderia trabalhar quem tivesse recebido o chamamento divino. Ramsés vive os últimos anos de seu reinado e aguarda o término da construção da sua morada sagrada.
“A Terra Será Tua” Chufo Lloréns
É um poderoso romance histórico que nos faz viajar a um dos mais fascinantes períodos históricos de Barcelona. O autor envolve-nos em duas histórias: a dos ilícitos amores do Ramón Berenguer I, e a luta do camponês Martí para vencer na vida e poder finalmente casar com a mulher que ama.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
REFLECTIR SOBRE A POESIA
O termo Poesia resulta do Latim poese e do Grego poiesis e significava, originalmente, a arte de escrever em verso. No entanto, semanticamente, evoluiu também para outros contextos, podendo significar, igualmente, harmonia, inspiração, carácter do que comove, do que faz pensar (in, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado). Neste dicionário, ainda se faz referência a Poesia de estilo, riqueza, animação, colorido em prosa ou em verso e também a Poesia muda, a pintura.
2. O Género Lírico
Na lista dos Géneros Literários[2] não existe nenhum “Género Poético”, mas sim o Género Lírico. Então, o que significa Lírico? Segundo o mesmo dicionário supracitado, a palavra vem do Latim lyricu, relativo a lira, que é um instrumento musical de sons muito suaves e harmoniosos. Na Antiguidade Clássica, utilizava-se a palavra para designar a poesia e os versos que se cantavam com acompanhamento da lira, ou a poesia que tem especialmente o fim de exprimir o que se sente, os sentimentos pessoais do poeta.
3. Vamos reflectir…
Sabendo, então, que a Poesia se pode encontrar em diversas formas de arte (na literatura, na pintura, na música…) e que o Género Lírico é uma forma literária capaz de descrever e transmitir emoções e sentimentos em verso (e, por isso mesmo, é também Poesia), como podemos distinguir ou relacionar estes dois conceitos[3]? (a discutir na aula).
4. Breve História da Poesia
A Poesia é a forma especial de linguagem, mais dirigida à imaginação e à sensibilidade do que ao raciocínio. Em vez de comunicar, principalmente, informações, a poesia transmite, sobretudo, emoções. Digamos, então, que a poesia é uma forma estética[4] de nos exprimirmos.
Pela sua origem e pelas suas características, a poesia está muito ligada à música. Ela é uma das mais antigas e importantes formas literárias. Desde tempos mais remotos, as pessoas sentem prazer em cantar enquanto trabalham ou brincam. Os poetas antigos recitavam histórias de deuses e heróis.
Ao longo do tempo, os poetas e os filósofos preocuparam-se em definir a poesia. Para o poeta espanhol Garcia Lorca, "Todas as coisas têm seu mistério, e a poesia é o mistério que todas as coisas têm". Mas Poesia, por si só, não é definível. Aquilo que tu consideras poético poderá não despertar nenhum sentimento em mim…
Os escritores têm elaborado composições poéticas de vários tipos. Dois deles, entretanto, são considerados os principais: o poema lírico (escrito em verso) e o poema narrativo (escrito em verso, mas contando uma estória). Existe ainda, a prosa poética, composição em prosa que, pela sua beleza e elevada capacidade de transmissão de emoções, é considerada poesia.
4.1. A poesia árabe
Entre os árabes, enquanto estes povoavam o território que mais tarde viria a ser Portugal, encontramos um punhado de poetas de grande valor:
· Al-Mu'tamid (rei do Reino de Taifas de Sevilha).
· Ibn Bassam (em Santarém, na altura chamada Xantarim).
· Ibn'Amar e Ibn Harbun (de Silves).
4.2. Poesia na Idade Média Cristã
Com a Reconquista Cristã e a fundação da nacionalidade, inicia-se a época da poesia galaico-portuguesa[5], com alguns dos nossos reis, também eles, poetas e trovadores, como por exemplo, D. Dinis:
· Cantigas de amigo.
· Cantigas de amor.
· Cantigas de escárnio e maldizer.
Estes textos, cantados por trovadores, foram compilados em antologias da época, manuscritas, a que se deu o nome de Cancioneiros:
· Cancioneiro da Ajuda – Compilado em Portugal no final do século XIII ou no princípio do século XIV.
· Cancioneiro da Vaticana - Compilado em Itália no fim do século XV ou no princípio do século XVI.
· Cancioneiro Colocci-Brancutti ou Cancioneiro da Biblioteca Nacional - Compilado em Itália no fim do século XV ou no princípio do século XVI.
· Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende, compilado em 1516.
4.3. Luís Vaz de Camões
Luís Vaz de Camões é, como já deves ter percebido, o vulto maior da poesia portuguesa. Foi ele que escreveu Os Lusíadas, obra editada em 1572, que é o poema nacional por excelência, uma vez que, a par da viagem de Vasco da Gama à Índia, relata também os episódios mais importantes da História de Portugal, tendo divulgado o valor do povo português por todo o Mundo. Trata-se de um Poema Narrativo (pertencente ao Género Épico que estudarás no 9º ano). Camões também nos deixou inúmeras poesias líricas, reunidas em Rimas, obra editada, depois da sua morte, em 1595.
Em relação aos séculos mais recentes e ao nosso século XXI, terás oportunidade de descobrir, na aula de Língua Portuguesa, os poetas que nos deixaram e continuam a deixar as palavras que nos encantam!
[1] Etimologia: estudo da origem e da formação das palavras.
[2] Géneros Literários: relembrar o Género Narrativo e o Género Dramático.
[3] Conceito: noção, ideia.
[4] Estética: ciência que estuda o Belo nas produções da inteligência humana, do ponto de vista artístico.
[5] Galaico-português: a primeira língua a ser falada em Portugal, que misturava o Português e o Galego.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
A CRIATIVIDADE NO SEU MELHOR
O BEM E O MAL
Fez-me demasiadas perguntas, às quais eu não sabia responder. Duvidava que alguma vez compreendesse porque a ele e não a outras pessoas quaisquer. Ou talvez compreendesse. Talvez, um dia, eu crescesse. Ser capaz de determinar o motivo pelo qual uns são escolhidos e outros não. Conseguiria perceber todos e mais alguns motivos para que fosse ele e não o outro. Compreendesse finalmente os rodeios do mundo e a verdade da vida.
Foi então que partiu. Partiu sem eu saber o porquê da sua partida.
Todos os segundos, todas as horas, todos os dias da minha vida tinham sido passados ao seu lado. Ele esteve presente em muitas das minhas estreias e em muitos dos meus momentos.
Amava-o como não amava mais ninguém deste mundo. Cresci com ele e agora sou dependente dele. Tornava-se cada vez mais difícil não o ter a meu lado, cada vez mais complicado não saber viver na sua ausência.
Sentia realmente a sua falta. Sentia a falta da sua companhia, dos segredos partilhados, dos medos ultrapassados. Sentia falta do meu maior e melhor amigo.
É das melhores coisas no mundo!
Os melhores anos da nossa vida
São passados com os nossos amigos!
Estes, de quem falo,
São os verdadeiros amigos!
Estão sempre lá…
Em todos os momentos,
Os momentos para sorrir,
E até nos momentos para chorar
Ao longo da vida,
Também nos aparecem
Os falsos amigos!
Mas temos de saber detectá-los.
Somos fortes,
Inteligentes e
Capazes…
O suficiente para ultrapassar,
Tudo o que nos vai acontecendo!
Estes “amigos”
Não merecem
Uma preocupação,
Uma lágrima,
Um sorriso, sequer!
Devemos e temos de aceitar
Cada um como é…
Os defeitos e
As virtudes.
Verdadeiro amigo
É tudo isto!
Aceitam-se,
Apoiam-se,
Compreendem-se,
Gostam-se…
Com tudo isto...
Digo-te, TU, sim, és um verdadeiro AMIGO
Não funcionamos como máquinas, e os momentos também doem, também ferem, também marcam.
Vale a pena enganar a sorte, fintar o obstáculo sem passar por ele, mesmo dando uma volta maior. Nunca parar para não percebermos que nos enganámos no caminho, para não percebermos que estamos perdidos. Sim, corajoso é arriscar, ultrapassar sem medo, ir para onde se quer e não para onde se pode. Sim, corajoso é mudar de rumo sempre que apetece, ir para o mais difícil como se fosse o mais fácil. Sim, corajoso é pensar que quanto mais fundo cairmos, mais alto subiremos. No entanto, não vale a pena ser sempre corajoso. Há que tratar a coragem como um triunfo utilizado num jogo, com um certo de limite de utilizações, para não ser desperdiçada. Usar a coragem sem pensar, faz com que corra mal, que não valha a pena e faz com que a deixemos de ter. E sem ela, as nossas opções ficam condicionadas, restritas, um tanto entregues ao acaso.
Um desvio de olhar, um sorriso ou uma lágrima podem ser exemplos de coragem. Ou então, podem ser restos de emoções, ou resultados de vários ensaios da razão. Não sabemos muito bem onde paira o genuíno, o inevitável. Não sabemos o limite entre expressividade fingida ou a expressividade errada na hora certa, que oferece a graciosidade de um momento puro.
O ser consegue transformar, enganar. Consegue pensar, sentir e decidir com coragem ou sem coragem. Viver entre achados e perdidos, entre elementos confusos, entre sentimentos, emoções e pensamentos retiram o conceito de constante a todas as vidas. Fingir não resulta, esconder pouco serve, fica sempre algo de fora, quase como quem se esconde atrás das cortinas e deixa os pés à vista.
Fingir que somos uma construção pedras, torna-se ridículo, porque as construções tambem se desmoronam.
O facto de termos cinco dedos em cada mão talvez esteja relacionado com o facto de não conseguirmos rodar o mundo apenas com o dedo mindinho, por muito que queiramos mostrar que isso é a nossa lei.
Carolina Marques 10ºF
Desde que sussurraste ao meu ouvido e tocaste a bela música... Uma paixão profunda abateu-se sobre mim.
Então um calor humano aproximou-se. Envolveu-me em passos delicados.
Passo a passo, tudo ganhou forma. Agora algo dança em mim.
Sentimentos expelidos através de movimentos.
Hip-hop ou Jazz, Salsa ou Tango... Individual ou em par. Tudo relativo.
O encontro está entre a pessoa e a música, para o resultado ser um conjunto de passos criativos e apaixonantes.
Um ouvir atento para me encontrar com os tempos.
A Dança é o maior mistério que escondemos dentro de nós. Uns descobrem-na, outros não!
Obrigada por facilitares o caminho até esta arte. Continua a envolver-me com encanto. Somos os poetas do gesto!
Relíquia
Após um abraço apertado e um beijo sentido... algo me perturbou.
Era uma noite normal como as outras. Não fazia anos e não ia partir para lado nenhum. Porquê um abraço e um beijo com sabor a despedida?
Não liguei. Deitei-me. Duas horas depois toca o despertador.
“Que raio, como as oito horas passaram a voar. Nem tive tempo para sonhar!”
Afinal não era o despertador, era a sirene da ambulância.
Soluços e mais soluços, um passo e outro passo... O mais temido aconteceu.
A minha relíquia deitada e caixas de comprimidos à sua volta.
O senhor da bata branca pediu para me retirar da sala.
Uma encruzilhada de porquês envolveram-me a cabeça.
As pessoas crescidas não me respondiam... nem a minha própria consciência.
Porquê a minha relíquia? Porquê? Não me quiseram responder.
Passado que me transtornou o presente.
Não me deram respostas. Estou cheia de dúvidas.
Porquê a minha relíquia? Porquê? Terei sido eu o problema?
Ainda hoje me atormento e continuo nesta solidão.
A porta e a janela continuam fechadas para não ouvir mais sirenes de ambulância e senhores de bata branca.
Se sou eu o problema, deixem-me sozinha.
Um sorriso pode dizer tudo, sem que seja preciso ir dizer ao teu ouvido.
Posso dar-te um sorriso, simplesmente para te dizer que te quero.
Posso dar-te um sorriso, para dizer o quanto me fazes falta.
Posso dar-te um sorriso, em sinal de carinho.
Posso dar-te um sorriso, como te mostro a minha felicidade.
Posso dar-te um sorriso, como um sim.
Posso dar-te um sorriso, como um não.
Posso dar-te um sorriso, como um talvez maroto.
Posso dar-te um sorriso, para te mostrar a minha simplicidade.
Posso dar-te um sorriso, para perceberes que contigo ou sem ti eu sou feliz, porque os que me rodeiam dão-me o que mais preciso.
UM SORISSO.
Posso dar-te um sorriso, porque é o melhor na vida.
Posso dar-te um sorriso, porque quem não sorri não sabe que sorrir é do melhor.
Posso dar um sorriso, porque um simples sorriso serve para começar melhor um novo dia e isso pode mesmo fazer a diferença, às vezes por falta de um sorriso amigo, o nosso dia já não começa como era pensado o que é triste porque nós devemos dar um sorriso à vida, pois a vida não são dois dias são aqueles que quisermos se não sorrirmos agora quando vai ser?!
Não vivo sem mostrar o meu sorriso para dizer o quanto a minha vida tem cor e continua viva, pois tenho aquilo que mais preciso.
Nos melhores, nos piores, seja qual for o momento, mesmo que tente, dou sempre um sorriso à vida.
Foi há algum tempo, talvez sete ou oito anos. Mas lembro-me como se tivesse sido ontem. Às vezes com o decorrer das situações não percebemos que aquele momento pode mudar a nossa vida, pode ficar marcado para sempre ou pelo menos servir de memória quando anos depois olhamos para trás e percebemos que acabou. Temos memórias boas e memórias más. Às vezes queremos recordarmo-nos de alguma coisa e essa coisa foge. Outras vezes não fazemos nada para nos lembrarmos, e sem notarmos a memória segue-nos para todos os lados. Outras vezes queremos esquecer, mas não conseguimos.
Era sábado, todos os sábados vinha jantar a nossa casa. Trazia sempre a sua boa disposição, o seu sorriso. Pegava-me ao colo, fazia-me cócegas até eu não poder mais. Inventava e inventava mil e uma histórias que pareciam tão reais. Insistia comigo para eu fazer a letra bem “desenhadinha” quando eu estava a aprender a escrever. Contava que era um “D. Juan”, que passava por cima de tudo, de todas as dificuldades. Ou melhor, para ele não existiam dificuldades e por isso para mim também não existiam, claro.
Quando sabia que no dia seguinte ia passar o dia com ele, as minhas noites eram lentas, quase tão lentas como a noite antes do dia dos meus anos ou aquelas horas até à meia-noite da noite de Natal.
Quando estava com ele, passava tão rápido. Como quando andamos num carrossel e mal entramos temos de sair. Fazia tudo bem, ou pelo menos parecia fazer. Se lhe pedisse para agarrar no mundo eu tenho a certeza que ele conseguia. Pelo menos conseguiu agarrar em bocadinhos e dar-me. Hoje, é só isso que resta, os bocadinho do mundo que me deu, sem pedir nada em troca. Era capaz de tudo. Os heróis são capazes de tudo, não são?
Naquele dia, naquele sábado, apareceu em minha casa, mais tarde do que o habitual. Mas apareceu e por isso já era sinónimo de festa. Mas não foi isso que aconteceu. Até hoje, não consegui perceber muito bem o que se passou naquela noite. O meu pai e o meu herói foram para lados diferentes, seguiram caminhos opostos, separam-se e cancelaram o laço que os unia. Não vi, porque estava no quarto a fingir que brincava e acho que não tive coragem de sair, mas ouvi um bocadinho da minha família a cair. Ele foi-se embora, não se despediu. Na altura não percebi, mas foram-se passando os dias, os meses, os anos e ele não voltou, não ligou, ele nem se importou. E eu senti tanto a sua falta, tanto. Perguntei tantas vezes, rezei para que voltasse. Mas ninguém me ouviu.
Culpei o meu pai, culpei a minha família porque todos se tinham afastado dele. Tinham deixado que ele fosse, aliás, pior que isso, tinham-no mandado embora.
O tempo foi passando, deixei de sentir saudades, revolta, deixei de precisar da sua presença, deixou de fazer parte da minha vida.
Hoje percebo que a culpa não é do meu pai, não é do resto da minha família. É dele. Porque os heróis verdadeiros não desiludem ou iludem (ainda não descobri) nem faltam e ele faltou. Não ultrapassou o obstáculo que eu precisei que ultrapassasse, ficou para trás, e por isso estes multiplicaram e agora já são tantos aqueles que se atravessam entre nós. Um desses obstáculos é mesmo a memória. Teve a ousadia de trocar os risos, os momentos presentes, a felicidade que eu sentia por isso mesmo, por memórias. Ele não tinha o direito de trocar a presença do meu herói, por uma recordação. Não tinha o direito de abdicar de ser o meu avô.
Branca, quase tão branca como a neve, embora com mais brilho. Tem as bochechas rosadinhas quando a vergonha assim o decide e o maior sorriso do mundo. Ora meio verdes, ora meios cor de avelã, os seus olhos dependem do sol. Transmite a sua beleza, a beleza única que faz com que ninguém se esqueça da sua cara redonda, do seu nariz também redondo, dos seus cabelos lisos castanhos, que lhe alongam a bonita testa quando amarrados e sobretudo da força que deita para fora quando arregala os seus olhos ou quando ri sem parar, fazendo a tal covinha no queixo. As mãos grandes e macias, de quem sabe e toca piano com a alma. A melodia de um corpo, meio de viola, com as suas curvas também meio elegantes. Ela, é assim, difícil de descrever, por ser também difícil de encontrar parecido. Ela, é assim, uma princesa, é assim, a Maria Lopes.
4 de Agosto de 1944
Querida Kitty:
Quando amanheceu, eu ia jurar que o dia que acabara de nascer, iria ser um dia de sol. Iria, mas não foi. As suposições e previsões davam sempre errado, então nestes últimos tempos, o melhor era mesmo esperar para ver o que acontecia. Reduzir-me a minha insignificância de castanheiro, de velho castanheiro. As minhas preces não valem nada, era ridículo pedir um dia de sol, se todos os dias eram cinzentos. Era ridículo prever, sempre que amanhece, dia após dia, um dia diferente, calorento e bonito. Ai que saudades eu tenho da beleza de um sorriso. Um sorriso de um judeu, ariano, preto, branco, amarelado, vermelhusco. Um sorriso, era sempre um sorriso kitty.
Bem, a minha prece e quase certeza, porque as preces só valem se acreditarmos nelas com muita força, para um “hoje” de sol e radiante foi rejeitada. Aliás, tem vindo a ser rejeitada todos os dias, mas hoje para além de rejeitada deve ter sido trocada e baralhada. Aconteceu tudo ao contrário. Mas não culpo ninguém, as preces devem ser tantas: de povos, de vidas, de pessoas que dar conta de todas, deve ser bem complicado.
O dia não tinha chegado a meio e eu já sentira que algo tinha acabado. Também, tudo dura pouco, menos a prisão que quase todos sentem por aqui. Ou melhor, por ali, muito mais longe. Longe de tudo, longe da própria vida.
Ela foi presa. Sim, ela. A judia para quem olhava todos os dias e por quem queria olhar, proteger. Mas não pude, não consigo. Foi o terror, o pânico, a tristeza, o sofrimento. Descobriram-na e levaram- -na. Senti que ia ficar sozinho outra vez. Já me tinha habituado ao rosto pálido e triste da Anne. Agarraram-na, foram tantos os gritos, mas tantos. Quando a noite chegou, desejei não ser um simples e velho castanheiro. Queria ser homem e lutar contra isto. Sou velho, mas percebo as injustiças. Tu sabes, eu tenho garra. Digo-te isto porque sei que não me vais chamar convencido. Mas eu sinto que tinha amor para todos, de todas as raças e espécies. Ai, espera, estou
O peso dos dias, o desejo de fim, a dor dos caminhos enganados. Escolhem viver felizes para sempre e sobrevivem infelizes mais um dia, dizem elas. Mas no fundo, todos sabem que vai ser por mais outro dia, e por mais outro, e por mais outro. Às vezes conseguem abdicar da sobrevivência e optar pela vida, mas ele volta a aparecer, a prometer e a vencer. São corajosas as mulheres que se deixam levar pela inocência, pelo sonho e por um amor. Amam quem as odeia, perdoam quem nunca na vida se vai conseguir perdoar a si próprio. Pelos filhos vivem anos e anos de angústia, de sofrimento físico e psicológico. É preciso muito mais do que a vergonha para aguentar a violência doméstica e lidar com ela como lei de rotina.
O maior sonho torna-se num pesadelo. O príncipe encantado torna-se um monstro. Uma excepção torna-se num acto diário. Um acto de nervosismo ocasional torna-se num acto sistemático. Uma palavra violenta dita num dia, acabar por tornar-se num monólogo de terror, todos os dias. O silêncio, o medo, a vergonha. O sentimento de uma vida perdida, de anos falhados.
Ninguém merece amar a pessoa errada, ninguém merece ser enganado e quando pensa que pode estar perto do céu, a viver aquilo que sempre desejou, a ganhar asas, cair num beco sem saída.
São tantos os testemunhos, tantas as notícias, tantas as palavras ditas em torno deste assunto, tantas as associações, mas nada consegue apagar as marcas deixadas na pele, a amargura deixada no coração e a lágrima que caiu tantas vezes do olho.
Tenho uma admiração inabalável pelas mulheres que caladas vivem nas ruelas do horror, numa vida escura e diferente de todas as outras, mas tão igual, todos os dias. Ninguém tem o direito de roubar a alegria de cada dia, o brilho do olhar, o orgulho em si próprio. A elas roubam-lhes isso tudo. Deixam de ser mulheres. Admiro-as, porque mesmo depois de lhes tirarem a identidade, de serem condenadas todos os dias, conseguem, por exemplo, sorrir para os filhos, dar-lhes todo o amor do mundo e ainda mais algum que a dor tranformou. Admiro a coragem que elas possuem ao acreditar que um dia pode acabar em vez de acabarem com tudo num dia.
As mulheres vítimas de violência doméstica são vencidas, não por serem fracas, mas por serem fortes de mais, porque ninguém sofre como elas sofrem. E alguém que sofra assim, tem muita garra.
Por muito que escreva e tente expressar a minha opinião sobre este assunto, sobre elas, eu não consigo. Não tenho bem a noção, nem eu, nem ninguém que acompanhe de fora, o quão triste e grave, a violência doméstica consegue ser. Enganam-se aqueles que dizem que a vergonha é delas, porque essa, pertence completamente aos que as maltratam. E muito antes de elas serem coitadas, já eles o eram, porque nasceram cobardes.
Devia ser possível conseguir viver um bocadinho de um sonho, sempre. Para sempre.