terça-feira, 19 de maio de 2009

HISTÓRIAS, TEXTOS, POEMAS...

Era uma vez uma escola. Era uma vez uma professora. Era uma vez um aluno.
Não é que ocupe os meus pensamentos com as histórias das escolas por onde passei. Às vezes, quanto menos lembro, melhor. Mas isto é só para verem como aquela escola era diferente. Eu queria ler-lhes um poema, mas não tinham um livro, eu queria pô-los a ler um poema, mas não tinham um livro. Nem um computador como havia nas outras. Nada.
Então eu, pacientemente, escrevia aos pais todas as semanas para lhes dizer que os seus filhos não tinham material de trabalho, e sem livros como podia ensinar?
Dos pais nada. O silêncio completo.
E lá vinha outro mês e outro e outro e nada.
Eu já não sabia que fazer, que dizer. Eles sabiam tudo de cor, mas não faziam ideia o que era um poema, o que era ler.
Ainda comprei dois do meu bolso, mas 22 cabeças sobre dois livros é difícil.
Até que um dia, surpreendentemente, o Miguel se levantou, ergueu o dedo e pediu para falar. A sua voz soava de dentro, o olhar atento daqueles que o ouviam não deixava escapar qualquer ruído, qualquer movimento. Só eu esboçava felicidade. O Miguel recitava os seus próprios poemas de fio a pavio, sem enganos, sem falhas. Os colegas ouviam, entendiam e queriam mais e mais.
Acho que nem ouvi bem o que ele disse, mas foi assim que aconteceu, foi assim que passou a acontecer. O Miguel tinha uma capacidade diferente de reter as palavras, de brincar com as palavras, tinha um dom especial para as transmitir.

Hoje, recordo ainda aqueles dias que me levaram quase a desistir de fazer o que amo na vida: ensinar.
A Professora Salomé Neves

6 comentários:

  1. Excelente texto professora. Só nao percebo o porquê de pensar em deixar de ensinar. Seria pelo facto de não conseguir ensiná-los devido á falta de instrumentos de apoio?
    No entanto, acho que tomou a decisão mais acertada, visto que, como diz, ensinar é o que mais gosta de fazer na vida.

    ResponderEliminar
  2. Não entendo o porquê dessa pessoa deixar de querer ensinar. Devia-lhe dar ainda mais vontade para o conseguir fazer.

    ResponderEliminar
  3. Com o seu texto depreende-se uma lição de vida, nunca devemos desistir das coisas das quais realmente gostamos.

    ResponderEliminar
  4. Gostei imenso da história e da atitude da professora em comprar 2 livros para ajudar os seus alunos. Concordo com a Bábá, tambem acho que o texto quer transimitir que nao podemos desistir de fazer as coisas que gostamos.

    ResponderEliminar
  5. Gostei muito do seu texto, faz-nos pensar.
    Muitas vezes não damos valor ao que temos, estamos sempre a reclamar por isto e por aquilo não percebemos que há pessoas com problemas bem mais graves que nós.

    Ana Catarina 10ºF

    ResponderEliminar