terça-feira, 28 de abril de 2009

A MUDANÇA


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.



Produção escrita
O tema da mudança é um tema recorrente na literatura.
Produza um texto onde fale sobre a mudança.

PENSAMENTOS E REFLEXÕES

Tempo é Mudança


O tempo é a dimensão da mudança. Sem percepção da mudança, não há e não pode haver percepção do tempo. E as diferentes atitudes para com o tempo são corolários de diferentes atitudes para com a mudança. (...) Vive-se bem a vida em camaradagem com o tempo, vendo-o como ele é, respeitando as suas obras, inclusive a decadência e a morte, com o passado e com a história. A restauração é uma autodecepção e frequentemente um crime. (...) O tempo é frequentemente destrutivo - como o são os escultores quando trabalham um bloco de pedra. Mas velhos rostos podem ser mais expressivos que rostos jovens, velhas paredes e esculturas mais ricas que as novas.

Walter Kaufmann, in 'O Tempo é um Artista'

O Constante Desejo de Mudança Cega o Progresso


Penso, baseando-me em todos os dados que de há um ano para cá nos saltam aos olhos, que se pode afirmar que qualquer progresso deve acarretar necessariamente não um avanço ainda maior mas, ao fim e ao cabo, a negação do progresso e o retorno ao ponto de partida. A história do género humano prova-o. No entanto, a confiança cega desta geração, e da que a precedeu, nas ideias modernas, no advento de não sei que era da humanidade que deveria marcar uma profunda transformação - mas que, no meu entender, para influenciar o destino de cada um deveria antes de mais afectá-lo na própria natureza do homem -, esta confiança no futuro, que nada nos séculos que nos precederam justifica, constitui seguramente a única garantia desses bens futuros, dessas revoluções tão desejadas pela vontade dos homens.
Não será evidente que o progresso, ou seja a marcha progressiva das coisas - tanto para o bem como para o mal -, acabou, hoje, por conduzir a sociedade à beira de um abismo, onde ela poderá facilmente vir a cair para dar lugar à mais completa barbárie? E a razão disso, a única razão para que isso suceda, não residirá nessa lei que neste mundo impõe a todas as outras: isto é, a necessidade de uma transformação, qualquer que ela seja? É preciso mudar. Nil in eodem statu permanet. O que a sabedoria dos antigos, antes de ter passado por tantas experiências, descobriu, teremos mais tarde ou mais cedo de o aceitar e de o viver. O que hoje em nós se extingue voltará sem dúvida a surgir de forma diferente ou subsistirá noutras condições, mais ou menos duradoiramente.

Eugène Delacroix, in 'Diário'


CAMÕES LÍRICO

Na lírica camoniana coexistem a poética tradicional, herdada da poesia trovadoresca e do Cancioneiro Geral, e o estilo renascentista, introduzido em Portugal por Sá de Miranda. Relativamente à poesia da medida velha ou corrente tradicional, poder-se-á referir que as formas predominantes são as redondilhas e as composições poéticas o vilancete e a cantiga. Ao nível do conteúdo, encontram-se temas tradicionais e populares: a menina que vai à fonte; o verde dos campos e dos olhos; o amor simples e natural, a saudade e o sofrimento; a dor e a mágoa; a exaltação da beleza de uma mulher de condição servil, de olhos pretos e tez morena; o amor platónico. Algumas das composições poéticas que sustentam as afirmações enunciadas são “Descalça vai para a fonte”, “Se Helena apartar”, “Aquela cativa”, entre outras.

No que diz respeito à poesia da medida nova ou corrente renascentista, poder-se-á aludir ao facto de a forma predominante ser o verso decassilábico e a composição poética, o soneto. Ao nível do conteúdo, encontram-se variados temas ligados não só ao amor e à mulher, como também à mudança e ao desconcerto do mundo. Considerando a temática do amor, dever-se-á sublinhar que esta surge quase sempre associada à da mulher; o amor segue um ideal platónico e petrarquista, é o amor sensível e espiritual, mas, por vezes, com a tortura do desejo (aqui Camões afasta-se de Petrarca); a mulher é ausente e surge divinizada e inacessível, dona de uma beleza estereotipada, de onde sobressaem os cabelos de ouro; o olhar indefinido, mas doce; o gesto suave; o sorriso honesto, doce e vago. É uma mulher que se pauta pela perfeição e pureza, cuja beleza se reflecte na natureza. Algumas das composições poéticas que patenteiam as temáticas enunciadas são “Ondados fios de ouro reluzente” e “Um mover d’ olhos, brando e piedoso”. Por último, a poesia de Camões refere a mudança, sempre para pior, do mundo, evidenciando, desta forma, o desconcerto do mundo, com os valores morais a inverterem-se e a perderem-se, visível no soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Em suma, a poesia de Camões é riquíssima não só quanto às formas utilizadas, como também às temáticas abordadas. É uma poesia humanista, preocupada com os grandes problemas do ser humano, apresentando-se dentro dos princípios do classicismo renascentista.

INÍCIO DAS ACTIVIDADES

... Depois de uma virose informática aqui estamos outra vez para dar continuidade ao nosso trabalho com um nome de Blog que deriva do outro "Dar Cor às letras" com que havíamos começado o nosso trabalho, mas que infelizmente foi afectado por um "tal" vírus.

Começando como se fosse de novo, proponho-vos que pesquisem um pouco sobre Camões Lírico e
que se pronunciem sobre esta figura marcante da nossa Literatura, produzindo um texto para apresentação em aula.